segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os Últimos Dias (2011)

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Os Últimos Dias de Francisco Manuel Sousa é uma excelente curta-metragem feita como trabalho final do curso de cinema da Universidade da Beira Interior e que é no mínimo uma enorme lufada de ar fresco (e pesado) de um nome até agora desconhecido mas que a ser apoiado terá muito para dar ao cinema português.
Luísa (num brilhante registo de Joana Belo) é uma jovem que, não sendo problemática, não deixa de ser uma marginal. Aparentemente poderemos pensar que todos os adolescentes o são mas, depois de ter sido apanhado a fumar na escola e de ser castigada tanto pela directora como pelos pais, ela revela ter outros planos... a fuga.
Luísa combina com Filipe, um jovem com quem percebemos passar tempos intermináveis a falar num chat de internet, fugir... Mas Filipe tem outros planos... quer matar todos aqueles que lhe fizeram mal antes de desaparecer. O que irá agora fazer esta jovem antes de dar um novo rumo a toda a sua vida?
O desfecho final desta curta-metragem é no mínimo surpreendente. Em primeiro lugar faz-nos reflectir sobre os benefícios (ou malefícios) da internet e sobre quem se esconde por detrás de um conjunto de letras que surgem no ecrã. Como estas palavras podem influenciar quem as recebe e, em última análise, até que ponto a internet se torna um vício cuja dependência pode, como com qualquer outra droga, levar um indivíduo a uma espiral de queda, ruína e tortura física e psicológica que ninguém consegue explicar.
A jovem actriz Joana Belo tem um registo interpretativo no mínimo impressionante. Desconheço se a actriz até à data já tem alguma outra experiência mas se não tem este seu trabalho revela um futuro promissor. Se de início nos parece mais uma adolescente apática e isolada a quem, na sua própria opinião, tudo lhe corre mal, com o decorrer da acção ela mostra-nos poder ser alguém que levado a um certo limite (por mais irrelevante que possa parecer) se torna numa eficaz máquina assassina que nem pensa nos limites ou nas consequências das suas acções. Joana Belo tem assim uma interpretação apática mas brutalmente eficaz pois encontra, apenas no momento final, a real dimensão de todas as suas acções.
Dimensão esta que consegue ser igualmente avassaladora quando percebemos o que realmente aconteceu para chegar (e chegarem como veremos) àquele momento que destrói qualquer tipo de dúvida que se poderia ter sobre "encontros secretos" originados via internet. Não quero com isto propagar uma ideia de que esta é perigosa... Perigoso pode ser sim quem se esconde por detrás dela.
Destaque ainda para as participações secundárias de Paulo Matos como o pai de Luísa, Maria José Pascoal como a directora da escola e da sempre grande Elisa Lisboa como a funcionária que inicialmente a denuncia e que se torna no primeiro "alvo" da jovem.
Garantidamente um dos "pesos pesados" do ano, esta curta-metragem bem que poderia ser uma longa com terreno mais do que suficiente para ser explorado. Arrisco dizer que este é seguramente um dos melhores trabalhos cinematográficos que veremos este ano, ainda que possa prematuro neste momento afirmá-lo.
Do e ao realizador só posso dizer que espero muito atentamente pelos seus próximos trabalhos pois estou convicto que com os apoios certos terá muito e bom ainda por mostrar. Em duas palavras... simplesmente extraordinário.
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9 / 10
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