domingo, 16 de dezembro de 2012

The Iron Lady (2011)

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A Dama de Ferro de Phyllida Lloyd tornou-se num dos filmes mais antecipados de ver por dois motivos muito concretos. O primeiro prende-se com o facto de ser uma história baseada numa das figuras mais importantes das últimas décadas da História mundial como é o caso de Margaret Thatcher. O segundo motivo é óbvio quando falamos de Meryl Streep a interpretar esta política britânica, naquela que se espera ser mais uma estrondosa interpretação.
Margaret Thatcher (Streep) a ex-toda poderosa primeira-ministra britânica encontra-se idosa e enclausurada numa casa de onde raramente sai e onde se encontra bastante vigiada e acompanhada quer pela sua filha Carol (Olivia Colman) como também por um conjunto de empregados que trata de todas as suas necessidades. Margaret está idosa e prisioneira das suas memórias que não só não a largam como acentum um galopante estado de demência que a faz estar, sem percepção, no presente como também nos tempos em que ocupou um dos cargos políticos mais importantes do mundo e em todo o processo pessoal que a levou até lá.
Nos dias de limpeza da roupa de Denis (Jim Broadbent), o seu já falecido marido que sempre se assumiu com o seu mais importante pilar, Margaret é acompanhada pelo seu fantasma que a faz recordar os altos e os baixos de uma conturbada carreira política que desde o aumento de impostos e a repressão aos grevistas passando pelos conflitos com a Comunidade Europeia e a Guerra das Malvinas teve de tudo um pouco, tornando-a numa das mais amadas e odiadas políticas do país. Quando terminam as limpezas, Margaret tem finalmente de se confrontar com o seu trágico presente e com a partida definitiva da memória do seu marido.
O descritivo mas sentido argumento de Abi Morgan é excelente na recriação dos momentos passados da vida de Thatcher mas sobretudo eficaz no retrato de uma mulher que tendo governado um dos mais importantes Estados do mundo se encontra agora confinada à redutora pequenez da sua casa e mais concretamente do seu quarto. A idade, e principalmente a degradação da mente humana, são aqui retratados com mestria e desprovidos de qualquer julgamento sobre o passado de uma mulher que ocupou um importante lugar político e que, concordemos ou não com as suas decisões, é impossível negá-lo como um dos mais importantes do final do século passado.
Meryl Streep que aqui viu concretizada a sua décima-sétima nomeação a um Oscar e uma terceira estatueta (finalmente), tem mais uma inspirada e brilhante interpretação que nos permite conhecer um pouco da mulher para além da vida política sendo que mbas se confundem pois consegiu estabelecer o seu nome através de uma carreira feita essencialmente na vida política activa. A sua ascenção e desejo de ser alguém que, em juventude, pretendia ser algo mais do que a "mulher" de alguém, traçando assim o seu próprio caminho e destino de forma a que fosse o seu nome a firmar um legado e não o apelido do seu marido que determinasse aquilo que era havia sido perante a sociedade. Magnífico e irónico, mas talvez um dos mais sentidos, o momento em que termina a lavar uma chávena de chá depois de afirmar não quereria que a sua vida assim terminasse, pois representaria uma vida sem deixar qualquer marca.
Este filme é, essencialmente, um "one woman show" em que Streep é a senhora toda-poderosa do início até ao final. O seu crescendo enquanto mulher independente e que se afirma dentro do Partido Conservador até conquistar a sua liderança só tem semelhança com a decadência a que chega a mulher que perde a noção do espaço e do tempo em que vive bem como sobre aqueles com quem vive ao lidar com o fantasma do seu já falecido marido. Impar no seu desempenho, pois dela não poderíamos esperar outra coisa, Streep dá alma a uma Thatcher que no essencial da sua governação conseguiu cultivar um conjunto elevado de ódios que ainda nos nossos dias subsistem, e só ela conseguiria fazer de qualquer um de nós um simpatizante desta (composição/interpretação) mulher.
De destaque está a caracterização de Mark Coulier e Roy Helland, também vencedora de Oscar, que transforma uma Meryl Streep numa Thatcher que num momento se encontra no seu auge como, segundos depois, a vemos como uma mulher idosa e desgastada tanto pelo tempo como por uma vida conturbada e, muito particularmente, por uma doença degenerativa que aos poucos a vai consumindo.
Possivelmente não será o desempenho e a interpretação mais marcante de Streep mas, ainda assim, não deixa de ser uma (mais uma) interessante composição que a actriz norte-americana junta à sua já extensa e notável galeria que a afirma e confirma como a grande actriz dos nossos tempos. É graças a esta mestria das suas composições interpretativas que se torna quase impossível não simpatizar com as personagens a que dá vida mesmo que, a serem reais, se encontrem em polos marcadamente opostos daquilo que defendemos. Se o filme tem uma alma, esta manifesta-se através de duas palavras... Meryl Streep.
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"Margaret Thatcher: Watch your thoughts for they become words. Watch your words for they become actions. Watch your actions for they become... habits. Watch your habits, for they become your character. And watch your character, for it becomes your destiny! What we think we become."
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8 / 10
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