sexta-feira, 29 de abril de 2016

James White (2015)

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James White de Josh Mond é uma longa-metragem norte-americana e um dos filmes "sensação" da última temporada de prémios nos Estados Unidos que retrata quatro breves meses na vida de James (Christopher Abbott), um homem prestes a entrar nos seus trinta's.
Tudo começa em Novembro quando James se depara com a morte do seu pai. Num velório que tem tudo menos de convencional, James tenta consolar Gail (Cynthia Nixon), a sua mãe que - também ela - se depara com um momento difícil ao lidar com um cancro em estado avançado enquanto tenta encontrar o rumo para a sua própria vida.
Josh Mond - também argumentista de James White - constrói uma intensa e dramática longa-metragem que se centra quase exclusivamente na história desta personagem interpretada por Christopher Abbott. "White" é - foi? - um homem com grandes sonhos, expectativas e desejos mas que viveu os últimos anos da sua vida a cuidar de uma mãe doente vivendo no sofá da casa dela e satisfazendo todas as suas necessidades para o seu conforto. No processo, "James White" esqueceu-se dele próprio. Sem trabalho, sem casa e sem qualquer tipo de expectativas, ele representa não só o típico "young adult" que não conseguiu encontrar um rumo nos anos posteriores à universidade - o reflexo perfeito de toda uma geração nos seus trinta's - e que parece ter o futuro adiado a cada dia que passa, diminuindo as expectativas e assistindo a todos os seus sonhos a desaparecerem.
Dividido entre uma intensa vontade de encontrar a sua liberdade auto-retirada por dedicação a uma mãe cujo estado de saúde se degrada de dia para dia, "White" afoga as suas mágoas em excessos de violência, em alcoól e num constante sono que parece reflexo de uma depressão não assumida. Há excepção de "Nick" (Scott Mescudi) com quem partilha muitas das suas aventuras, o espectador não lhe conhece grandes amizades mas sim alguns conhecimentos e locais banais onde se encontram. A única certeza - para ele e para o espectador - é que "James White" tem a clara consciência que a sua vida parou e que os objectivos, sonhos e desejos que tinha para a sua vida estão rapidamente a tornar-se numa memória de um futuro que parece já não ver.
Ao mesmo tempo "White" tem uma outra grande preocupação. Se a sua vida parou, mais não foi pelo amor e dedicação que depositou no acompanhamento de uma mãe que começa gradualmente a abandonar o mundo físico. Se o seu estado de saúde se vai degradando à medida que o tempo passa é também verdade que a demência se mescla com momentos de sanidade e pensamentos que poderão - a seu tempo - fazer um sentido que ele agora não vislumbra. É esta relação com "Gail" (Nixon) que ganha um especial foco na segunda metade desta longa-metragem onde mãe e filho não só se aproximam como também começam lentamente a criar um ritual de despedida e de noção que todo um novo processo irá ser iniciado para "White". Perdido na noção de que o seu futuro foi abandonado, quem será ele uma vez que se encontre sózinho no mundo sem ninguém com quem se preocupar para além dele próprio? Dito de outra forma, o que irá ele pensar quando se olhar ao espelho e perguntar "quem sou eu?"?
Num misto de reflexão sobre o "eu" em conflito com os "meus" sonhos - adiados ou perdidos - e o filme de família onde impera a dedicação filial, James White consegue colocar o espectador numa dinâmica de observador que, como uma terceira personagem, acompanha os destinos da relação entre mãe que ambiciona partir sabendo que tudo foi "entregue" da melhor forma, e um filho que luta com uma dinâmica entre a perda (dos seus progenitores) e a continuidade (sua) face a um momento difícil e de reflexão sobre o que virá a seguir. No fundo, como não perder o rumo quando a perda se instala e cria todo um conjunto de dúvidas adicionais àquelas que já tem para consigo próprio.
Se o argumento de Josh Mond é um dos pontos fortes desta longa-metragem, é também válido dizer que o mesmo ganha duas grandes e intensas almas que o conduzem a bom porto. Cynthia Nixon - a quem faltava um merecido protagonismo desde aquele obtido com Sex and the City - encontra aqui o seu momento de glória com "Gail", uma mulher à beira do fim que vive involuntariamente dividida entre a demência e o esquecimento sabendo que, ao mesmo tempo, precisa deixar tudo em ordem antes de partir. Esta consciência é, para ela, omnipresente ao compreender que "reteve" o seu filho de forma a poder acompanhá-la tendo colocado toda a sua vida numa pausa indeterminada. Agora que se prepara para partir, que conselho dar a "James" para que ele perceba que tem - e deve - continuar? Mais... como fazê-lo de forma lúcida e consciente de que se usam as melhores palavras?
Finalmente é Christipher Abbott e a sua intensa interpretação enquanto "James White" que fazem o espectador render-se aos seus dotes de representação. Abbott saído de Martha Marcy May Marlene (2011) e de A Most Violent Year (2014) encontra aqui o protagonismo como este jovem adulto perdido num mundo que evoluiu e avançou tendo-o deixado para trás. Abbott tem uma interpretação digna de Oscar - apesar deste se ter "esquecido" dele - e a oscilação entre uma contenção sentimental e uma explosão de sentimentos e violência tornam a sua personagem não só credível como alvo de uma instantânea empatia pois, em muitos dos seus traços, identificamos um pouco de nós naquele percurso de uma estrada perdida sem grandes planos ou ambições frutos - por vezes - de um auto-descrédito naquilo que outrora fora ambicionado.
Inteligente, perspicaz e dono de uma estranha sensibilidade - nem sempre a lágrima é a melhor forma de conquistar o público e Josh Mond parece sabê-lo muito bem -, James White é um intenso, sentido e sofrido drama que não fará o espectador chorar mas sim reflectir convictamente sobre a sua vida, o seu percurso, aqueles que perde e qual a memória que deles - e de nós - permanece depois de percorrido um caminho sofrido.
Considerando que - tal como "White" diz - a "vida está à espera", só resta uma palavra para caracterizar esta obra-prima dos nossos dias... belíssimo.
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"James White: I am not going to drink. And I am not going to smoke. I'm going to write and I'm going to meditate and I'm going to eat healthy and I'm going to swim and I'm going to work out and I'm going to write about all those feelings that are welled up inside me and when I get back I will get a place and a job but I need to go away. And when I come back I will be ready for life."
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9 / 10
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