terça-feira, 19 de abril de 2016

People I Know (2002)

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Gente Conhecida de Dan Algrant é uma longa-metragem norte-americana que se centra no lado não tão glamouroso das celebridades.
Eli Wurman (Al Pacino) é um relações públicas decadente que sobrevive graças à generosidade de algumas estrelas que ajudou no passado e que ainda confiam nos seus contactos. Eli tenta organizar um evento de apoio a refugiados mas nem todos lhe dão a atenção que ele espera.
Durante dois dias acompanhamos as relações de Eli no seu meio dito habitual, como ele se movimenta e como denota uma evidente decadência fruto da sua dependência de drogas mas que tenta esconder para manter a sua credibilidade. Jilli Hopper (Téa Leoni) é uma actriz e acompanhante de luxo que tem os seus próprios planos de vida de sucesso... Mas estes planos - nos quais Eli se vê involuntariamente envolvido - firmam-se à custa de homens muito poderosos...
O argumento de People I Know da autoria de Jon Robin Baitz vive da revelação sobre o outro lado da fama. Aquele lado que escondido do brilho de uma vida de sucesso, de luxo e de satisfação económica no qual todos estes potenciais "valores" servem única e exclusivamente para fazer (sobre)viver um conjunto de dependências e de boémias que, a curto prazo, reclamam as vidas daqueles que por elas se deixam levar.
Se inicialmente o espectador assiste a um lado bonito da fama, não deixa de ser também retratado aquele instante em que na realidade ninguém "de topo" quer realmente saber do que acontece no outro lado do mundo ou, tão pouco, àqueles que estando do outro lado da rua se encontram privados de liberdade ou afectados por uma qualquer carência. "It's him... not me" poderia ser um eventual slogan da realidade que People I Know tenta retratar. É este lado da fama, aparentemente bonito e cheio de "brilho" mas que está, por sua vez, embrenhado numa espiral de decadência onde a chantagem, o crime, a droga e o lado negro da boémia são, efectivamente, reis e senhores.
É no seio desta vida que espelha uma opulência glamourosa mas que esconde, na realidade, todos os podres daqueles que nela co-habitam que People I Know tenta, de facto, retratar. Um conjunto de vidas que vivem de favores que nunca serão satisfeitos, de compromissos que nunca se irão concretizar ou mesmo de aparentes vontades que, na realidade, mais não são do que breves momentos que ficam perfeitos numa fotografia que apenas irá ser recordada mais tarde como "algo" que fica bem no curriculum daqueles que se mantêm mais tempo no topo mas que para os demais não passou de uma frivolidade que em tempos sonharam e que nunca se concretizou graças a essa incessante cadeia de favores nunca firmados.
People I Know mostra ainda um lado mais obscuro... Aquele onde apenas sobrevivem os mais aptos. Aquele momento em que estando todos em jogo apenas resistem os que têm uma boa mão ou um excelente bluff sendo todos os demais eliminados por incumprimento de um conjunto de "regras" impostas não pelo jogo em si mas sim por aqueles que o mantêm vivo graças ao seu poder e influência. Desta forma, todos os que pretendem deixar o jogo ou viciá-lo à sua própria maneira na esperança de que isso lhes confira uma vida melhor - esquecendo por momentos como lá tentaram ou conseguiram chegar - estão automaticamente eliminados pois há sempre alguém com uma mão maior. O jogo está viciado desde o primeiro instante... há que aceitá-lo para jogar ou definhar enquanto se espera pela "big break"... que nunca chegará.
Com um conjunto de nomes notáveis da Sétima Arte norte-americana como Kim Basinger e yan O'Neal são, no entanto, Téa Leoni e a sua breve interpretação como a oportunista de momento que tenta dar um passo maior do que aquele que as suas pernas permitem e Al Pacino como um decadente relações públicas que se esqueceu que o seu tempo já terminou há muito, aqueles que dominam People I Know desde o primeiro instante. Se Leoni tem uma breve interpretação - embora determinante - na qual se expõe como a mulher desesperada à procura do seu lugar ao sol - mesmo que há custa de outros e pouco pelo seu mérito -, não deixa de ser um facto que embora consiga uma das suas mais bem construídas personagens (embora com um fim trágico), People I Know não conseguiu ser o filme que a catapultou para um lugar mais proeminente na indústria que a sua "Jilli" lhe poderia ter conferido. Leoni arrisca tudo e entrega um desempenho sólido enquanto uma mulher no limite... A sua personagem sente e percebe já nada ter a perder e tudo o que faça não a irá condenar à indiferença. "Jilli" é uma mulher que - sente - todos irão recordar nem que para tal ela tenha de aparecer frente àqueles com quem pretende "jogar". Sendo tão vulnerável e exposta quanto o jogo que pretende jogar... "Jilli" está, desde o primeiro instante, condenada por não ter mais cartas para lançar na mesa.
Por sua vez é Al Pacino que domina este filme, na medida em que se assume desde cedo como o rosto de um homem decadente. A deterioração de "Eli" é visível desde os primeiros instantes e o espectador percebe que aquela imagem frágil e inconstante está longe da glória que todas as fotografias do seu escritório registam do (seu) passado. Ainda que não se consiga antever o seu "final", People I Know expõe uma clara decadência física e moral de "Eli" resultado de todos os seus excessos e rituais de boémia pelos quais se deixou - e deixa - levar e que são momentaneamente interrompidos por um (último) acto nobre que tenta concretizar expondo o seu lado humanista e defensor dos direitos civis mas que - tal como tudo o demais - parece poder ser abafado por um conjunto de pessoas pouco dispostas a viver os seus "caprichos".
Não sendo um filme memorável e exibindo um acentuado excesso de personagens que, na sua maioria, apenas servem um propósito de revelar que um homem pode estar francamente solitário junto a uma multidão, People I Know tenta forçosamente expôr um mundo de aparências, de momentos fugazes e de promessas que nunca serão cumpridas. Um mundo escuro - por vezes negro demais - no qual apenas sobrevivem aqueles que estão dispostos a entrar no "jogo" e comprometer aquilo que mais tarde irão chamar de alma. No final, People I Know sofre do mesmo problema que as personagens que o povoam... mais tarde, irá alguém recordá-lo?!
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"Victoria Gray: Is that what we're doing, E? We're surviving?
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Eli Wurman: Don't underestimate it; it's harder than it looks."
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6 / 10
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