segunda-feira, 16 de maio de 2016

The Comfort of Strangers (1990)

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Estranha Sedução de Paul Schrader é uma longa-metragem norte-americana com as interpretações protagonistas de Christopher Walken, Rupert Everett, Natasha Richardson e Helen Mirren.
Colin (Everett) e Mary (Richardson) são um casal britânico de férias em Veneza para reacender a chama do seu casamento. Enquanto percebemos que existe alguma tensão na sua relação, sentimos que o casal é observado à distância por Robert (Walken) que juntamente com a sua mulher Caroline (Mirren) têm planos para o jovem casal.
Com argumento do Nobel da Literatura Harold Pinter, The Comfort of Strangers começa por ser a tensa viagem de um casal cuja relação parece estar à beira do fim para, a seu tempo, se revelar como uma história de paixão, desejo e principalmente transgressão das normas e noções que se encontram pré-estabelecidas.
Se "Colin" e "Mary" se apresentam inicialmente como o casal à beira da ruptura numa Veneza que mais do que os ver reatar testemunha sim o seu lento separar, é o encontro com um bizarro "Robert" que fará despertar no seu íntimo as mais elementares reacções de sobrevivência psicológica numa relação - do casal com ele - que a eles se parece vincular cada vez mais intensamente. Esta relação com "Robert" parte desde o primeiro instante com um misto de repulsa e curiosidade que cedo se revela como uma mistura fatal para os primeiros e um jogo de "quero, posso e faço" para "Robert" e "Caroline" que vive, também ela, numa dependência doentia das vontades mórbidas da personagem interpretada por Christopher Walken.
E no fundo é disso mesmo que trata The Comfort of Strangers, ou seja, um jogo de dependências onde se tentam alcançar novas e satisfatórias experiências que, em última análise, mais não são do que o resultado de momentos de saturação e rotina sedentos de algo mais que os deixe no "topo". Uma vez alcançado esse topo, é sempre esperada uma nova estímulo que suplante esse momento mas, na realidade, este é impossível de ser alcançado. É na tal relação com os "estranhos" - aqui interpretados por Walken e Mirren - que o casal - Everett e Richardson - tenta encontrar algo - o tal estímulo - que falta à sua relação... por uma habitual e já rotineira convivência ou até mesmo pelo amor de outrora ter dado lugar a uma amizade fiel e convicta mas que substituiu a paixão inicialmente sentida e que não foi gerida com sucesso. São então estes "estranhos", conscientes de que são o tal elemento novo necessário para um clímax ainda desconhecido que se aproveitam de alguma ingenuidade encontrada neste casal perdido - entre si e no mundo - e que os guiam a um limite desconhecido e dramático.
O conforto pretendido - (in)conscientemente - chega apenas como um soporífero que os anestesia momentaneamente. A sensação de viver uma vida nova não chega - pelo menos não ao ritmo desejado - e as vidas que outrora tinham e que consideravam irrelevantes para eles e para o mundo são agora o tesouro que possuíam e que fora revelado ao mundo... e perdido desta forma.
A excitação de um mundo novo, de uma opulência sedutora e de bons costumes revestidos de alguma rudeza revelam-se como uma facilidade que os faz desconhecer os seus motivos (que não existem), e tarde percebem que se encontram num jogo... num desporto... numa aposta maléfica que arruinou o pouco de bom que ainda guardavam em comum. Tal como presas numa armadilha mortal, "Colin" e "Mary" deixaram-se levar pelas expectativas de uma vida que jamais seria sua. Desejosos de um casamento - e de uma vida - mais activa e dinâmica, aquilo que encontraram foi o beco sem saída com uma situação que os fez perder mais do que aquilo que esperavam inicialmente ganhar, comprometendo e condenando não só a sua integridade como principalmente as suas vidas.
Com algumas nuances a respeito das suas personagens que levantam questões como, por exemplo, se será o casal mais velho realmente um agressor escondido, ou o mais novo não tão vítima quanto parece, ou até mesmo dentro dos próprios casais... quem será mais inocente... quem será mais agressivo... serão as suas sexualidades tão evidentes como parecem ser ou será a violência e agressividade que exibem a forma "normal" de esconderem o desejo mais oculto, The Comfort of Strangers é essencialmente uma peça teatral filmada com cenários semi-reais em pano de fundo, que vive quase na sua totalidade graças a um conjunto de interpretações de um grupo de brilhantes actores que revelam em si um pouco da condição humana. Da saturação ao desejo passando pela agressividade e pela dependência, esta longa-metragem tem uma passada muito própria onde a degradação convive com o perigo, e que poderá apenas ser do agrado daqueles que se entregam não tanto à história - ou aos seus cenários - mas sim aos actores e às suas, por vezes, macabras personagens. Que da inocência e da ingenuidade vive todo o mal... e que este apenas pode prevalecer quando as convicções sobre o bem - ou aquilo que dele resta - tremem face à vontade de ter e desejar sempre um pouco mais do que aquilo que está ao "nosso" alcance.
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4 / 10
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