sexta-feira, 1 de julho de 2016

30 Days with My Brother (2016)

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30 Days with My Brother de Michael May é uma longa-metragem norte-americana que relata a história de Jonathan (Adrián Núñez), um jovem que nos dias após a morte do seu pai é confrontado com o aparecimento de Alexis (Omar Mora), o seu irmão desaparecido quando ele tinha dez anos de idade.
Aquele que é um encontro inicialmente tenso onde todos os laços são postos em causa relembrando as tragédias familiares, traduz-se numa inesperada redenção que confirma que nem as distâncias opõem os destinos de uma família.
Jorge de los Rios e Omar Mora - que aqui além de uma das interpretações principais e produtor de 30 Days with My Brother é também o seu argumentista - assinam uma história que se afirma em todos os momentos como uma pesada elegia aos caminhos que distanciam um dos mais fortes elos como o é o da família. Quando inicialmente se conhecem os dois irmãos, o espectador está longe de compreender toda a dimensão da separação destes dois irmãos que não são mais do que dois estranhos que partilham um património genético. Ambos com passados conflituosos que lentamente se vão revelando, tanto "Jonathan" como "Alexis" são o fruto de um acto de extrema violência testemunhado por um e ignorado pelo outro que os separou não só em adolescentes como também nesta idade adulta que agora os confina a uma desconfiança difícil de colmatar.
Num registo temporal que revisita o passado através do olhar de alguém que o espectador não conhece logo desde o primeiro instante, e tendo a morte ou a sua eventualidade como um potencial destino final, 30 Days with My Brother é, no entanto, uma história que celebra o reatar de um laço fraternal interrompido pela tragédia desse mesmo passado incompleto e que os revisita para encontrar um potencial desfecho. O mesmo passado que levou um a viver sempre no medo de uma violência extrema que o condicionou a uma vida no limite de uma ilegalidade constante - "Jonathan" - enquanto que o outro, não vivendo nesse limbo, sempre se encontrou sózinho num mundo que não lhe deixou com o retrato de uma família dita normal - "Alexis". Nestes mundos opostos onde nem sempre as oportunidades se encontram ao virar da esquina levam-nos, no entanto, a encontrar aquilo que sempre lhes fez mais falta... uma família. Uma família que chega no completar de uma metade em falta e que reserva algumas surpresas na secreta, e por vezes silenciosa, personagem de "Alexis", que reencontra o seu irmão com o intuito de se completar mas também de lhe deixar um preciso legado.
Com a necessidade de fecharem o passado, conhecerem-se mutuamente e recomeçar toda uma vida nova, estes dois irmãos de 30 Days with My Brother são assim a prova de que existe um porto de abrigo no mais inesperado dos momentos. Momento esse que espreita silenciosamente, como que numa espera pelas acções tomadas delimitando as suas consequências e formatando assim um caminho para um futuro desconhecido.
30 Days with My Brother é um filme que funciona essencialmente pela simpatia provocada pelos dois actores protagonistas que se complementam como dois pólos opostos... da insegurança e incerteza de um à segura confiança do outro, os dois protagonistas complementam-se entregando uma simpática dupla de interpretações que convence o espectador através do seu crescendo - enquanto intérpretes e pelas suas personagens - sem nunca esquecer que é o mesmo que despoleta a vontade de que a vida (lhes) resulte bem. Como nem sempre existem finais felizes - nem mesmo nas histórias de reunião familiar - aquilo que 30 Days with My Brother tenta deixar é um certo legado que pressupõe uma continuidade, não necessariamente com os personagens que esperamos, conferindo uma segunda oportunidade àqueles que (sobre)vivem para lá das expectativas.
Se Omar Mora é a força motora por detrás de 30 Days with My Brother assumindo-se como intérprete (essencial para a narrativa e para o evoluir de "Jonathan"), produtor e argumentista, é Adrián Núñez que, no entanto, se confirma como o actor revelação deste filme entregando aquela personagem que contra todas as expectativas evolui de um jovem feliz mas desconhecedor do seu passado, para o fruto de um lar abusivo e uma vida marginal à lei mas que consegue resistir contra todas as adversidades (mesmo aquelas auto-impostas) demarcando-se do seu meio e assumindo um conjunto de responsabilidades que não esperava serem possíveis. Não sendo uma interpretação determinante para o seu futuro, o seu "Jonathan" consegue, no entanto, marcar um interessante ponto de situação no seu potencial e uma personagem que irá certamente ser recordada no seu curriculum.
Não sendo uma longa-metragem excelsa mas sim uma feita livre de preconceitos e que coloca duas personagens latino-americanas no centro de uma narrativa de uma suposta redenção, 30 Days with My Brother confirma aquela máxima de que muitos filmes conseguem agarrar o espectador - e valer todo o seu argumento - graças aos seus últimos quinze minutos onde todos os fantasmas são finalmente desfeitos e nos quais o espectador ganha uma especial empatia pelas suas personagens... Aqui, se o espectador se vai deixando levar pela simpatia que "Jonathan" e "Alexis" provocam, é também verdade que o mesmo se deixa render pelos seus destinos ora trágicos ora redentores conferindo no final uma invulgar mas tranquilizante sensação de "missão cumprida".
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7 / 10
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