segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Ozzy (2016)

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Ozzy de Alberto Rodríguez e Nacho La Casa é uma longa-metragem espanhola de animação que foi nomeada ao Goya da Academia Espanhola de Cinema a atribuir no próximo dia 4 de Fevereiro, na respectiva categoria.
Ozzy (voz de Guillermo Romero), é um alegre e destemido cão que vê o seu mundo alterar radicalmente quando os Martin - a família com quem está - deixá-lo num luxuoso hotel enquanto vão de férias. Mas, o que aconteceria se aquele hotel não fosse mais do que uma fachada para um terrível local onde todos os animais se encontram para serem explorados? Estará o inocente Ozzy capaz de sobreviver a tão grande provação?
O argumento que é da autoria de Juan Ramón Ruiz de Somavía capta todo um conjunto de elementos que levam o espectador para a familiaridade de um lar onde o agregado se divide entre humanos e canídeos. As cumplicidades entre os membros da família bem como as zangas e aborrecimentos que um cão inocente mas enérgico trazem a uma casa são aqui exploradas com o humor e a imaginação que apenas os filmes de animação conseguem conferir a estas histórias.
Das típicas tardes de aborrecimento em que vale tudo para chamar a atenção às complicações com a vizinhança, do arqui-inimigo na pessoa de um jovem distribuidor de jornais sem esquecer a ternura e dedicação da mais jovem dos "Martin" para com "Ozzy", todo o ambiente desta longa-metragem capta a essência e a ingenuidade de uma vida isenta de problemas e repleta de uma compaixão extrema que apenas a acção externa do Homem - aqui também ele "animado" - irá testar. Se o pequeno mundo que nos rodeia se mostra paradisíaco, é quando passamos a nossa fronteira geográfica que percebemos que nem tudo é tão idílico como inicialmente aparentava ser.
Se a vida de "Ozzy" é perfeita - dentro do possível - na casa dos "Martin", na qual vive protegido de um mundo bem mais do que imagina, onde confraterniza com os seus amigos de longa data, onde vive uma paixão escondida e até é a personagem principal da banda-desenhada com a qual o seu humano ganha a vida, é quando este resolve ir de férias que finalmente percebe que a sua vida atribulada não o é... e que as dificuldades espreitam a todas as esquinas.
Dos passatempos que se transformam em trabalhos forçados aos imaginativos castigos que o mais improvável dos reclusos passa a encarar como uma constante, Ozzy - o filme - assume-se como um tributo à amizade - entre cães -, à saudade - entre humanos e canídeos - e principalmente ao mais fiel dos amigos do Homem... o cão. O cão que independentemente da sua raça, tamanho ou origem vive com um animal social dependente do conforto que lhe deve ser proporcionado e da tranquilidade que o mesmo origina. Mas, uma vez na prisão social, e considerando que a questão da amizade e da dedicação são uma certeza nesta longa-metragem, Ozzy assume-se ainda como um tributo ao cinema que encontramos através de pequenas grandes referências ao longo da sua acção. Do eterno género "prisional" onde as elites se dividem entre director e polícias versus presidiários e, de entre estes, a pirâmide social divide-se sempre pelos diversos grupos e etnias governando os mais fortes ou com mais influências sobre os demais que, desprovidos de poder, são subjugados, até à referência explícita a algumas outras longas-metragens onde o cinema se encontra e de boa saúde... Para citar alguns, Ozzy faz homenagem a The Shawshank Redemption (1994), de Frank Darabont, Mean Machine (2001), de Barry Skolnick sem esquecer The Last Castle (2001), de Rod Lurie - ao espectador a tarefa de descobrir essas mesmas referências - criando, pelo meio a única e essencial mensagem/homenagem a reter... a de que a amizade é eterna e a sua forma apenas um "protocolo".
Com simpáticos e inteligentes momentos de humor apesar da história ser, na sua essência, algo expectável, é a inteligência emocional que Ozzy pretende retratar que conquista o espectador não deixando por mãos alheias a rica construção das personagens - em especial o protagonista - que se transforma num elemento memorável pela capacidade de o humanizar e de lhe conferir sentimentos nobres que a muitos de nós escapam ao mesmo tempo que nos encontramos perante uma longa-metragem "infantil" capaz de agradar aos mais adultos.
Independentemente da vitória ou não nos Goya, Ozzy triunfa pela capacidade que tem enquanto longa-metragem de animação, enquanto a personagem que cria e claro, no seu óbvio potencial de ser o primeiro de tantos outros títulos que podem abrilhantar esta saga, afirmando ainda que de forma inocente e por vezes pueril se conseguem transmitir mensagens e valores maiores que nem sempre, na ficção, são tão bem sucedidos.
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7 / 10
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