quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A Rapariga de Berlim (2015)

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A Rapariga de Berlim de Bruno de Freitas Leal é uma curta-metragem portuguesa de ficção e uma das nomeadas ao prémio de Melhor Curta do Ano no Shortcutz Viseu.
Uma rapariga (Marta Cunha) regressa a Lisboa depois de uma estada na capital alemã. Ao reencontrar o namorado (Frederico Andrade), compreende que apenas subsiste uma dependência física e emocional entre eles. Num lugar onde já não existe o amor, conseguirá esta relação sobreviver-lhes?
O que fará a distância a uma relação afectiva e sentimental? Poderá o sexo manter uma relação onde a compatibilidade emocional já não se encontra presente? É a estas duas perguntas que tenta responder o argumento de Sofia Bento e Bruno de Freitas Leal mantendo o espectador atento à dinâmica existente entre "Ele" e "Ela" bem como aos pequenos grandes momentos que indiciam que nada é como outrora se manifestara. Sabemos que "Ela" se manteve ausente da sua Lisboa, numa Berlim  que, para bem e para o mal, a distanciou emocionalmente do seu espaço, das suas pessoas e eventualmente de todos os momentos que caracterizavam, até então, a sua vida. "Ele", por sua vez, manteve-se nesse mesmo mundo enquanto esperava por ela... vivendo uma vida algo paralela que, emocionalmente cúmplice, não deixava de ser fisicamente ausente ao comprometer-se aos prazeres da carne com outra (ou outras) mulheres que saciavam as suas necessidades sexuais.
É nesta perspectiva base que a dinâmica d'"Ela" com o espaço que anteriormente fora seu se começa a desenvolver numa outra margem da d'"Ele". Se inicialmente ela pretende um eventual reatar que, ainda assim, estaria sujeito a uma readaptação de ambos, é ao descobrir indícios de outras presentes nos espaços que outrora foram seus que equaciona que afinal... já não pertence ali. Os silêncios tornam-se crescentes e a solidão - ainda que na mútua presença - marca a indiferença com que se relacionam deixando de lado qualquer manifestação de afectividade ausente e apenas a potencialidade do sexo como o seu elo de ligação.
As mudanças, não necessariamente apenas as mais drásticas, marcam cada um de nós de forma diferente. Se uns esperam o reatar de uma ligação tida, outros compreendem que aquilo que viu ou experimentou os distanciam de uma realidade passada à qual não pretendem voltar. Os afectos, a emotividade, o próprio sexo ou mesmo a presença dessa pessoa na "sua" vida já não a completam ou satisfazem como o fazia noutros tempos. A mudança sentida apenas faz adivinhar um novo rumo, um novo percurso e toda uma nova experiência que tem agora de ser iniciada.
Ao ritmo de uma mudança que não quer ser (ainda) assumida, mas sentida e compreendida como o único passo possível a dar de seguida, A Rapariga de Berlim poderá ser o início de uma nova etapa - para ambos - ou, por outro lado, a confirmação de que aquilo que tinham num passado mais ou menos distante mais não é do que a compreensão de uma memória que não se repetirá explicita, aliás, pela belíssima direcção de fotografia de Afonso Gaudêncio e Tomás Paula Marques.
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6 /10
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